terça-feira, 17 de julho de 2012

Palavras concebidas

Foto: Joyce Tenneson
Sinto uma saudade profunda
de mim? quase tudo
uns chamarão de carência
outros de frescura

eu chamo Saudade
emergências não atendidas
ausências 
falta
[do que foi ou era
até mesmo do que virá a ser

Eu sinto aquele aperto no peito
aquele ardor que o engraçado
[diz-me: é azia!

Sinto as faltas chegarem
elas vem como ondas
no dia de calmaria

olho para o mar de faltas
as vagas me consomem
eu ateio fogo nas águas
possível é até provarem o contrário
continuo 

muitos pés nas calçadas
trafegam os carros na rua
ainda ouso o encarar-me por dentro
observar o mundo 
vejo-me nua
Sem palavras!

Vejo-me, ainda que muito enxergo,
[ver só não é o bastante
ser o só 
sozinho e consciente

reinvento os desejos
arrepios na pele 
digo ao mundo coisas que gostaria
calo-me
os calos da vida são assim
doem somente nos próprios sapatos

quando não (n)os pisam os alheios

tantas coisas a dizer e tanto que pensar
quem me dera ou dará a luz?
mães-pais que concebem
ouçam
parturientes interiores

alguém em trabalho de parto

Só(mente) o eu
um eu egoísta metido a auto-suficiente
ronda os palácios cerebrais
Abdique

[assim o faço

acendo uma lamparina 
claro-escuro ainda a falta
na penumbra do mundo estão
[esperando
muita luz e sombra por escrever

e sonhos...

*
jamais acabarão a não ser que desista
improvável!

Joice Furtado - 17/07/2012

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