quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Peninsular

Imagem: Braldt Bralds 
Mas quando chega a tarde
à tarde
invade-me a falta
tua falta 
minha absolvição

via de regra
despedacei algumas
algemas
regrado estou
um coração
sangrante

assim, quando chega a tarde
maré baixa
vem-me aquela mágoa
àquela
levando aos teus braços
colo amigo
sinto o perigo 
de me olvidares 

[ procuro teus olhos 
admirando a onda
quebrando na praia 

não são os meus
olhos de ressaca
que a desestimulam? Contesto! ]

Península sou
e quando chega a tarde
o sol alcanço
ele me olha acabrunhado
até laranja fica
estou aqui, uma íntima
centelha chora

... guardo-a no peito a cada instante

toco o mar
- toca-me Amor - 
profundamente
quando chega à tarde
em meus olhos, em meus olhos

Joice Furtado - 31/10/2012

Eu e essa paixão pelo mar. Devo ouvir o canto da sereia. Ela me chama sempre. =)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Rendas e Alvejantes

Foto: Odile de Schwilgue

Tu és meu álibi
afã
força motriz
matriz presente
embrulhado quieto
pedaço do bocado
aconchego em sutiã

o aroma das pétalas
tuas clareiras
armações certeiras
flechas meu olhar

e caio
caio em desalinho
não me estrepo
mais me deito
extasiado
olhando teu cavalgar

pelas campinas orvalhadas
minha rainha
assim me cortas com navalha
a carne dura
amoleces meu pesar

amor:

álibi
colibri
teu canto invade alma
alarmo ao vento:
- é nesse momento
quando me coMoves -
eu que da tristeza
era parente
acalmo-me em teu cio
sexo
seiva
alívio do que era cinza

clareias o dia
(ótimos alvejantes são as
palavras de desejo)

... estou aqui
sou tua(eu)
minha irmã 
poesia


Joice Furtado - 29/10/2012

Será magia, miragem, milagre, será mistério!
Sereia - Lulu Santos

nAves espectrais

Foto: Patto Fischer
O(z)tentação
sem um mico no bolso
oVários na cabeça
rebolando em dipara(t)a
Alien(a)
         ç
         ã
         o
produto midiático
pinta como pinto
exacerbo no sarcasmo

espectro, espectro
não caço teu fantasma
exorcizo enigmas

em terra de fantasia
maravilha!
Alice cai no buraco
eu Chapeleiro digo
a toda hora:
- passe
livre? - transa da poesia 

Joice Furtado - 30/10/2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A-prece

Foto: Enzzo Barrena

Eis o desenrolar
desembrulho o eco
alma
alma
na calma de mim
enfureço

poeta amanheço
anoitece e ainda vejo
olho brilhar

sinto
pressinto
nesse recinto apertado
(o cinto não é
de castidade)

a santa que me habita
profana o invólucro do absurdo
aquele hipócrita (i)mundo
deu-me a paga

a-prece é entoada
pressa!
pressa!
presságios no entanto
amo 
canto
danço
sapateio na cabeça
... a loucura agradeço
mantém-me atenta
e sã

Joice Furtado - 29/10/2012

O poeta não tem sexo

Foto: Enzzo Barrena

O poeta não tem sexo
- só na cabeça -
não se compara a anjos
ainda sim
ele e seu próprio nexo
todo o infinito faz parte

O poeta é a sua arte
enfim vive o múltiplo -
 mundo
de poetar -

abre-se o embrulho
eis o desenrolar
...
da alma
da alma

Joice Furtado - 29/10/2012

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Extenso


Foto: Isida Sontz

Sê para mim
água na boca
o despudorado, mas fiel
aos meus entregues sentidos
mais humanos

Sê para mim 
tal qual és e nada mais
sem intelectualismos
ou sentenças
pré-concebidas 

um dia em uma vida
são mais que as horas

Repito

Sê para mim
a noção de que o vento
passa, a maré também
as ondas e o sal na pele
mas 
  quanto ao se abrir
  ainda e com tanto
  empenho
  vorazmente sê
  por completo

por inteiro, por extenso
escrito em código de barras
de astros e estrelas
de lençóis voando e roupas
beijos lascivos e afagados
poemas

... assim eu serei
Serenaremos juntos
a cada manhã
que seja!

Joice Furtado - 26/10/2012

ConSiderações


Imagem: hqwall.com
Consideram-me promíscua
e baixa, mas altiva
promotora de enganos
dissensões sim
causando danos
às mentes

Consideram-me: a boa
ou muito ruim
perfeccionista
um tanto narcisista sim
con-tudo amo

Consideram-me: a louca
sem ser rainha
menina maluquinha
ainda que menina
já me passou a muito

alma
corpo
mente
olhos
beijos que consomem
- distribuo 
pensamentos - 

sigo as correntes
de verão
de outono
primavera
... o inverno passo
hibernar é só para ursos (ou cobras)
fofa não faz a minha praia
já cobras - penso, falo e ajo - 

Consideram-me, pois sim.
o conSiderar é válido
para o mal ou para o bem
- o humano prevalece - 
assim como a palavra
nunca muda, nuca-muda
beija!
não emudece

Consideram-me
já sou parte deles...
enfim

Joice Furtado - 26/10/2012
Pesquisando sobre Hilda Hist

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A ponte do pensar

 Imagem: Emma Uber


Às vezes não me expresso
CLARAmente
assim
       no escuro de mim
       & comercial de tVê(jo)
       vinheta em flash-
back ! I'm
             ao pensamento
             corrijo o trejeito
             Advirto: suspeito que me lançou
             olhar de reprovação

acendo uma lâmpada
"dentro de mim"
ligo as sirenes
Penso
- exerço o direito
que muitos abrem mão -
... ainda que comigo mesmo
não o fazer é desApontar
não apontAr

Pensil
pênsil-ar
pênsil

= A
ponte para mim
suspens(il)

lápis, para que te quero?
balanço a cachola
argumento
- quem não questiona, pouco estimula -
o saber, desenvolver-se
e a outros
por COMPLETO


Sexo frágil?
Ágil, eu acredito
no contrassenso
no contragosto
daquele rótulo
tão macho


daquelas 'mentes de alfinetes'
espalhadas pelas esquinas
arrotando glórias
feitas de baixa-estima
                 ... e muita auto-afirmação

Joice Furtado - 25/10/2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Soneto IX - Pablo Neruda

Foto: Web

AO GOLPE da onda contra a pedra indócil
estala a claridade e estabelece sua rosa
e o círculo do mar se reduz a um cacho,
a uma só gota de sal azul que tomba.


Oh radiante magnólia desatada na espuma,
magnética viageira cuja morte floresce
e eternamente volta a ser e a não ser nada:
sal roto, deslumbrante movimento marinho.


Juntos tu e eu, amor meu, selamos o silêncio,
enquanto o mar destrói suas constantes estátuas
e derruba suas torres de enlevo e brancura,

porque na trama destes tecidos invisíveis
da água entornada, da incessante areia,
sustentamos a única e acossada ternura.


Do livro Cem sonetos de amor 
Pablo Neruda

O Idioma do amor

Foto: Web
o idioma do amor
represa de versos
pronta a fluir

irrompe às margens
abre espaços
seu direito está ali


o idioma do amor
por vezes faz-se
inexprimível

um olhar
comove o peito
embriaga alma
sob a pele o braseiro
chora


poeta que sente
sensível o mundo toca
suas artérias, mente
vias lacrimais


transborda o poeta
alma, pássaro, luz
lua, claro, escuro
rio, riacho, cascatas


no idioma do amor
o sangue
seguindo a correnteza
adquire personalidade
tudo ao redor é arte
/ Vida
em pauta /
insondável canção


Para a amiga Carmen Silvia Presotto e todos os amigos Vidráguas. Feliz dia do Poeta. bjussss 

20/10/2012

Balanço

Foto: Dima Dmitriev
Era dura
feito pedra de esquina
batia-me toda
com pés descalços


Era dura
carapaça envolvida
os sentidos mornos
presa
a sete chaves
sete véus
da lua
mar
sol
e céu


Era dura
a minha figura
tímida
mulher de pouca fala
poucos amigos
/ainda
reservada/


ao manancial
fui
águas do copo
desejo
bebo do peito amado


Era dura
simplesmente
não que me faltasse grana
- também isso -
porém o que me faltava
era eu


Era dura a minha vida
meu coração, um pedregulho
até que me fez ver
maCio
com batom vermelho e tudo
resplandeceu meu mundo...


em fios, linhas soltas
amarrei-me sim
mais que firme
pendurei os sobresSaltos
no teu cabelo


... balanço

pernas para o alto.
Joice Furtado - 19/10/2012

Silva em selvas

Imagem: Web
Pintassilgo
silva meu
Silva
excluo-o do nome
ele insiste
parentesEs de mim


chapisco no muro
português
Silva meu
número três
antes do da(r)
em alguma coisa...
da nota mental
da Silva
antes furtado
sim, só o absurdo


até o esqueço
mas ele se lembra
sim
S(ilva)
e
x
- Poema
soul


Joice Furtado - 19/10/2012

Ângulos

Foto: Howard Schatz

Não me faça obtusa
experimento preciso
decerto
perpendicular gosto
esmerilhar o circulo
no oposto teu
avolumar com tanto
cálculo exato
traçar curvas
movimento reto - eu vou -
diagonal
envolver cilíndrico
diagnóstico:
e

s

c

a

l

a

r
prazer

Joice Furtado - 19/10/2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

aGostar


Foto: Brita Seifert
Gostar da tua poesia 
é abrir o céu de dia
e noite também
mesmo quando tudo é frio
parecer nublado

um fim em mim
recomeço do paladar
minha boca saliva
ao te abraçar em palavras

o gosto é adocicado
soluçante
doce de amoras frescas
morangos silvestres

eu amo
suspiro em nuvens algodão
vou aos campos da mente
colho emoções macias
aconhego-me nos braços teus
o calor acalma, só alma
sou
estou assim e fico
aGostar da tua poesia

... agosto já passou
não há desgostos mais
nem trevas ou marés frias
furacões, - ressacas que me machucam
a pele, cegam meus olhos - 
eis que descubro o estopim
esse que disparou meu anSeio

teu olhar 
ele/ela - o que quiser ser -
contanto que - Seja
a expressão íntima e delirante
das palavras abransando meus sentidos
Todos - 

Joice Furtado - 19/10/2012

Anoiteça e amanheça eu.
  
[Beija eu - Marisa Monte]



 

domingo, 14 de outubro de 2012

Amantes vermelhos


Foto: Web
Quando meu "eu" morrer
plantem amapolas no túmulo
quem sabe elas o levem
ao místico
do outro lado
misterioso mundo
narcotizado só em sonhos
reitero fantasias
alitero
estremeço o desejo
contigo em mim
sacudo a árvore
ela me olha
despeja seu fruto
amado
abro os braços em concha
faço um arco 
colcha de saia
e pernas para ti
aColho das ervas 
o jardim cuidado é belo
belo belo
floresce no elo
de nós
amantes vermelhos
sangues ferventes
misturados templos
cremos
ao por do sol
levantamos o rogo
perdidos nos olhos
um do outro
amando-nos únicoVerso

Joice Furtado - 14/10/2012

Finado


Imagem: Megaphoto

Eu que lhe faço falta
por quem procura
nos lençóis
grande é, assusta
toda
madrugada

Eu que lhe faço
o mal que perturba
seu descrente coração
sou ódio, saciedade
fansiado perdão

Nas noites de estrela
sou aquela 
caminhando junto
no peito a embriaguez
difícil é perder o ar
tesouro que o fez
mais que um idiota
patético

Sou amor e ainda
as marcas da menina
estão em mim impregnadas

Eu que lhe faço
nada!
O tempo de fazer não dura
resiste até o findar
de um velho dia.

As palavras saltam no tempo
meus pés em teu rosto
feito esse crepúsculo
quando acaba uma etapa
a canção prossegue
com outras rimas, mãos, enigmas
a decifrar.

Enterro mortos
- jogo a pá fora 
a fim de evitar desvarios -
ergo ao alto
Vida
Viva!
Vibrante é

Joice Furtado - 14/10/2012

colAr de açuCenas

Foto: Web

Meu colar é de açucenas
açuCenas de mim
não mais rosas
ou redondas filhas
de ostras

cristais lapidados não
um coração
nos dedos os calos
interjeições
sentidas ma(i)s


Meu colar é leve
das costas pende
céu azul
Lírios no peito


Joice Furtado - 13/10/2012

queimaDuras

Foto: Web
Baby, balance mais um pouco
o seu oco mistério
ácido ascórbico ao sol
sal de frutas

pressão e só

Baby, agite as discórdias
dignifique dignifique
um bando de filhos das putas


É! Baby
você acorda e olha pro lado
seu universo ordinário
e ainda grita comigo
seu ócio, seu indócil cio

esfrega em minha cara cretina
que sou frouxa rima, que sou sina
e não tenho talento algum
mas ego


Baby, talvez esteja certo
porém ainda sou
a sua melhor semelhança


Joice Furtado - 13/10/2012

Nós ninhos


Foto: Lovers Guide
Ora em diante
irei contigo
não mais instantes
e
sim
todos eu digo


irei ao teu lado
não após tu
nem adiante
Irei contigo
vestido ou nu
de mãos, de peito
pernas... entranhes
palavras macias
efeitos oxidantes
açucarados
açucenas no cabelo
mentes alinhavadas
construimos
aparamos as bordas
ajeitamos de
lado
a
lado
alados somos
asas de passarinhos
façamos a cama
Ora em diante
(t)eu ninho
em ti
(m)eu ninho


Joice Furtado - 13/10/2012

Um amor puro não sabe a força que tem...
Djavan

dEstilo desejo

Foto: Serg Zastavkin

Dou-te a mordida
de cara
afio os dentes


a carne é quente
excita-me


dEstilo tãobem venenos
enrosco o ventre
desfiro no centro
desejos


queimo, queimo

feitiços armo
olhos nos olhos
e a cobra...


... Escorre pelos cantos do lábio
sumo e me acho


serpenteio de um ao outro
lado
- da cela não caio -
ateio-me contigo


Se sou pecado?
luxúria eu te mordo
agora bem - mais
um bocado -


*
Quão bons são os sabores e marcas dessas mordidas. hummm

Joice Furtado - 11/10/2012

Ao cheiro da chuva

Foto: Jeff Wack
ao cheiro da chuva
a flor levanta
apruma
equilibrada no galho
sonha
brisa às narinas


ao cheiro da terra
reverdeço solo
acendo olhos
recobro
lembranças nossas
lampejam a(L)astro
recolho choros
armazeno anseios

Ando cabreiro
AcabrunhAndo pasmo
sou raio
as Attas ignoram
entreBusco recados


- maiores e melhores que o eu -

em folhas cortadas
alMaço sentimentos
reParto-me
divido desassossegos
aparo pingos
danço
pés até cabeça
molho o Peito...


e o grAmado?
...desmÁg(o)a

ao cheiro da chuva
Joice Furtado - 11/10/2012

Arte abstrata

Foto: The lovers guide 

Eu te procuro
no sentido das coisas
essa frase pouca
inunda meus Cantos
salões interiores


Vibram todas as cordas
o peito queima na busca
meus olhos marejam


Eu todo anseio
não me controlo se
te vejo a pouca distância
logo me vem
o grito de bilhões
auto-estrada louca
em minha mente


Eu te procuro
todos os dias sim!
com um não na ponta da língua
que saliva quando imagino...
- a negação é uma arte abstrata -


então prossigo no ato
parto as palavras
divido desassossegos
ainda me ajeito
conCerto significados


- semeio em ti meus dias -

floresça aos meus olhos
Eu te procuro...
sempre em mim
Poesia


Joice Furtado - 11/10/2012

Gostas

Foto: Página Art Erotic Fashion

Acordei com a melodia das cordas
insanidades tão sãs - do que gostas -
em meus intensos sentires


suspiro o perfume das rosas
jasmins sobre a pele - na minha loucura -


o amor sente e nada mais

feitura das mãos sensíveis e o peito
carregado de anseios - saliva a boca -
um pensamento pequeno só por ser
delicada esperança


botão miúdo que se ajeita no cacho
cercado de outros semelhantes
diferente, porém a beleza - está(s) Presente -
essencial fragrância


dormem as pétalas, naquele, tão calmas
a manhã da alma traz o despertar
aquilo que não se vê, não se fala - Ah! Esse Amor -
tende a durar


... por toda eternidade ou até
que se mude de ideia

Joice Furtado - 10/10/2012

Atos fal(h)os

Foto: Web
Eu
não me aspecto
não me encaixo

fal(h)o contigo
só do tal fal(h)o
e

quando olhas
meu olho abjecto
é que TV
circunspecto
alfineta meus
sentidos
... depois
molha os orifícios
teus
fundilhos derrama
prazer sarcástico


Joice Furtado - 10/10/2012

MaravIlhas

Foto: Página - Jose Saramago - a liberdade do pensamento
reFaço-me oceano
marejo
marAndo
ao redor dos textos
nossos
maravIlhas


flores aos dias
de pranto
- só luto
pelos que valem
porTanto ...


Joice Furtado - 10/10/2012

Ser criança

Foto: Malika Favre

Às vezes penso ser uma criança
criança grande por assim dizer
embora me falte a inocência
ou não a denote
- com o passar do tempo
aprendemos a ser adultos -
carregamos mágoa, disputa
emprego, casa, comida
roupa lavada no varal
insultos, condutas a serem
- normalmente seguidas -
fazem-nos mais de aço
mais de lâminas
cortantes
descorteses certas vezes
invocados, criadores de casos
- uma porrada de cacetete
na cabeça do primeiro a rir ...
de si mesmo -
Maluco!
Julgamos a nós e aos outros
enrolamos a nossa meada
cem milhões de medos
e segredos para dar liga
- estranha é essa mentalIdade! -


Às vezes penso ser uma criança
assim e somente assim
garanto-me a leveza frente ao peso
engulo os prantos
recupero instantes
pequenina e simples

sanidade


... algumas vezes é bom ter
ou fantasiar que tenho


Joice Furtado - 09/10/2012

ALAStrando

Foto: Catherine La Rose

um sentimento pequenino
dentro de mim
um sentimento
pequerrucho
botão
despertando
pétala por pétala
abrindo
sentimento
diminuto avolumando-
se
tudo que é sentimento
florescesse
abraçam-se as rosas
no ramo protegem
- botão alegre -
abre os olhos
mostra o rosto
amarelo
miolo
falam ao lado seMentes
g-e-r-m-i-n-a-n-d-o
eis nosso pequeno-grande
Amor-
alastrando à gente
sentimento
humano

Joice Furtado - 09/10/2012

Ditame


Imagem: Flickriver

Planto amor como quem planta
árvore frutífera à frente de casa
enfeita e alimenta a gente
que passa e olha
alegre o seu respirar

Planto amor como quem semeia
um campo de alfazemas e salta
pula os canteiros igual criança
perfuma o peito

Planto
e canto saudades e gozos
pessoa difícil de lidar
não escondo meu eco
estranho é ...


... quem não consegue se reparar
e ainda urra


Planto amor
- esse é o meu ditame -
soluço de lago ondulante
quando me atiram pedras
não perjuro


em palavra sei
devolvo ação
rápida mordida
chiada e vigorosa

Mais uma dose?

Joice Furtado - 08/10/2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Balada triste

Foto: Web

A minha balada triste
macarrão sem fervura
dura, dura
alucinada, alguns dizem
das mágoas que carrego
perdura
quando não se há remédio
canto
um desejo sabiá

ser por si só completo
razão e instinto
Essa balada triste
transfigura
alegria que fogueia
ventanas
da mente e coração
euforia
resiste querente
sensações de chegadas e partidas

Essa minha balada triste
só é mais triste quando de mim
ando ausente

Joice Furtado - 08/10/2012

Estágio


Foto: Web
A minha quietude é maçante
às vezes
quando abrupta empurra a mente
para baixo 
ali
   debaixo
do tapete das razões...

< ... a minha quietude reflete o enigma
muito do estigma meu
consigo ouvi-la dizer aqui dentro
sua insatisfação e receios
- também as belezas - 
já que da quietude renasce o poeta

é a chuva incessante em final de semana
o sol que me queima o rosto
ventania
espalhando as folhas no jardim >
por hora
acabei de juntar as peças
interior quebra-cabeças 

eu sou a quietude e ela
for(m)a
       i
      n
      h
      a
coerente ou incoerente
personalidade
depende do ritmo das correntes
em minhas veias
hemácias cor-do-fogo (circulos finitos)
contendo dedicado estagiário 
cíclico uniVerso

Joice Furtado - 08/10/2012

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Meu bem chama



M(i)a chama bem-te-vi
Eu vou
Um quê meu bem chama
Ardo-me a(r)risco
linhas telefônicas+
ligações cruzadas
Intercessões 
do(i)s conjuntos...
em um
luzeSombras
      InterCalados...
                Corações nunca

Joice Furtado - 05/10/2012

Falsas normalidades


Foto: Svetlana Bekyarova

Tirei os sapatos do tempo
durante horas, instantes, minutos
caminhando na estrada vi a poeira
as árvores e placas passavam tal qual postes 
iluminando constantes, com luz amarela, os carros
velozes, porém atrapalhadas, mentes que se omitem
choram o desespero de corpos esvaídos
consumidos olhos da dor que os maltrata
tão inexata é essa gente má humana julgamento meu
ainda que nada seja para julgar, nem, ao menos, Juiz
seguindo recobro o falado da multidão
aponta o dedo na rua aos pobres diabos
incoerentes culpando uns aos outros e à Sorte
essa trapaceira só dá para alguns seu sorriso
inocentes não há nos dias atuais assim digo
o sol nascer para todos é um engodo
porém os lunáticos aprenderam a palavra 
acendem uma lâmpada sobre a cabeça
homem de letras articulado digitalmente
propaga ideais ideias à longas distâncias
de suas reentrâncias faz o mundo conhecedor
do campo emocional e físico parafusos a menos sim
são poucos que não são vencidos literal e virtualmente
pela irremediável vaidade de poucos tolos dominadores
neutralizando os outros com suas falsas normalidades

Joice Furtado - 03/10/2012

As raízes do verso


Foto: Cris Dellorco
Das raízes Verso
profundidades da terra 
ConVersos de quimera
sou
águia
subindo alto e à distância
enxergo os males
e a melodia
canto

um som triste na minha fala
angustiado grito
ecoa nesta sala
cozinha, mesa de jantar, cama
corredores por onde passo
jardim no qual passeiam emproados
bem-te-vi e sabiá

Das raízes Verso
profundidades da terra
no meio da mata reverbera
o Lírio também Orquídea
nascem no seio meu
ânimo

do branco canto
desprovido do arrepio
preencho meus vazios exacerbados
não sou mais tonto
nem pássaro
aproprio-me de mim
a
i
(n)da
que seja apropriação indébita
os juros serão cobrados
pagar-los-ei sim
com todo o prazer

aHora me resta
expresso:
+sobras não me serão dadas!-
ou aceitas desde então

Das raízes Verso
coração
diLemas
todos têm
dentro da profundidade
quem a conhece, entende

Orvalho meus sorrisos
começo um novo dia
bebo dos líquidos etéreos
espalho ramos ao sol
+persisto

Joice Furtado - 03/10/2012

Magoadas rimas

Foto: Dan Mountford

Deixo que escondas teu verso
naquele canto sozinho
um relicário 
lembra com suspiros doces
tempo em que eras mais 

Lançaste por baixo dos panos
sob o poá de um vestido antigo
puídas e magoadas frases choram 
vergonha que tiveste delas jovens
vibrando o frescor de anelos
loucos segredos umidificando trechos
embalados com a música lacrimal
amor verdadeiro

Deixo que a traça engorde a pança
covardia plena é a que te sobraça
ais teus sobre a cama fogosa
agora lamentam desgostosos finais

O tempo que não se intimida 
guarida deu ao conservador engano
sentenciando apontou o dedo ao rosto
teu é o grande dano

As linhas agora cheiram mofo
exalam aquela fragrância nefanda
enfestando escuro quarto e cortinas
por toda parte 
por toda Arte
que te negaste a entregar
não era tua
era paixão nua
exposta melodia do Universo
guardaste o eco
encalacrando o confiado 
mataste mil mundos
por achar-te errado
... sepultaste a alma apaixonada daquela vivaz Poesia

Joice Furtado - 02/10/2012

Quixoteando


Foto: Salvador Dalí

Lapido lágrimas
angústias furtivas
nascida filha 
meu dote carrego
minas de diamante

... nos olhos

pedras cortantes
vejo sangue
vejo amor
vejo os outros à volta
muitas vezes não me vejo

e é tão duro isso

o ser carrega a beleza
bruta
incrustada no mortal
sujeito corpo
interrogação e ego
combatem
duelo de titãs
na mente que cavalga
cavalos do tempo

Dulcinéia disse
que largasse de loucura
não há fantasias
só amargura e trabalho
eu ralho com ela
persisto
combatendo dragões-moinhos
próprios medos
anseios
enfrentando um dia de cada vez
vivendo
... minha eterna terrena luta

Joice Furtado - 02/10/2012

A feitura do mundo


Imagem: Archan Nair Illustrations

Flores no rosto
Flores no corpo
Flores no sexo
Flores na cama
Flores
nos ornamentos
brincos
cabelos
calçamentos
ou lamentos
abajours
estofados
pratos
são Flores
nos olhos
nos braços
nos dedos
campos
jardins e janElas
desCalças Flores
nos lábios meus
nos perfumes teus
entre seios nossos
Flores
no caderno
nas receitas 
fitoterápicas
nos dias e noites
nas ruas
placas das lojas 
esquinas onde vejo
as Flores humanas
muitos espinhos
arrancadas pétalas
néctares choram
Flores no vento
Flores lamentam
Flores mulheres
sofrem todos os dias
Flores despencam
dos galhos Flores
olores mil
espalham pelo ar
sem reconhecimento
as Flores
passageiras
motoristas 
ambulantes
taxistas
mães
meninas
Flores
com seus papéis de cartas
marcadas
Flores
não constituem o mundo
mas ainda
fazem um pouco melhor 
a Vida

*
continuo meticulosa flor ou poetaFlor como disse a amiga Elke.

Joice Furtado - 02/10/2012

Tontura


Foto: Inmagine.com

Eu que sinto
um tanto brega
alguns dizem
esse tal sentir

afogo o meu canto
meios, beiras, assoalho
até o topo 
engasgada comigo
meu antro de perdição
ou altar

nem sei
o que me dói
de vez em quando
alma

parto as ideias
elas remoem
saculejam
despejo a tempestade
toda a conversa
argumentos da insanidade
tão sã que sou

penso
até demais eu sei
o que mesmo?
ainda é o suficiente
ou não
pois a procura é constante
sede
(s)oda vida é a que se tem
na pressão
decidindo tudo por vezes
nada contra 
há somente uma
não se puxa para trás
destino 
certo caminha
impiedosamente

... quem precisa de piedade?

Pois é! Ninguém ou alguém
sendo que ninguém é nome
a-
peia
o barranco é alto
a tontura já vem

Joice Furtado - 01/10/2012

Soneto XXV - Pablo Neruda


Antes de amarte, amor, nada era mío,
vacilé por las calles y las cosas,
nada contaba ni tenía nombre,
el mundo era del aire que esperaba.

Yo conocí salones cenicientos,
túneles habitados por la luna,
hangares crueles que se despedían,
preguntas que insistían en la arena.

Todo estaba vacío, muerto y mudo,
caído, abandonado y decaído,
todo era inalienablemente ajeno,

todo era de los otros y de nadie,
hasta que tu belleza y tu pobreza
llenaron el otoño de regalos.

Lindo poema. Inspirador!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Favos de céu


Foto: Web

Aqui em meu espaço
bolha de mim
eu mesmo

não abro mão dos pensAres
amo-os
defendendo o campo 
sou do esquadrão anti-bombas
performático

... ainda que bombástica
minha liberdade e calma
caminham +juntas
declarada conSorte
estamos+
Boa sorte minha querida!

o copo de vinho a minha frente
a saudade que já é tão e somente
minha
aurora começa contigo

choro, porém engulo as lágrimas
saracoteio as tristezas
agito o vento
dentro de mim
consoante esta forma
tua é a leveza
e a graça

rio tão fácil contigo
e voo em pensamentos
quanto não estás...
meu é o teu 
              quisera 
            - sempre presente - 
                ... sei que estou
(Ás 
no baralho) cigano ou não
as mangas-distâncias não escondem
ainda que longas...

ondulando várias frequências
conectada em urgências
não a tenho... ou tenho
talvezes são reais possibilidades
i-n-f-i-n-d-a-s
                    [mas estejas] sim!
                  estejas hoje e sempre
                               comigo
as Nuvens
testemunhas
ideias minhas em Tuas seivas
engomam favos de céu
e caem na terra seca
floresCem as horas
flores desaBrochuras e cadernos
[devidamente 
preenches-me]
com teu carinho

Joice Furtado - 04/10/2012

A paixão urgente

Foto: Olga Volodina

Venha ainda que seja tarde
Venha pela manhã invade-me
um aroma manhoso seu
Ah, esse meu anelo corpo

Venha ainda que noite arraste
sombras atrás de postes abrançam-se
estalidos e ais nos becos e ruas
carros, bicicletas, ambulâncias
pano de fundo à paixão urgente
facetadas harmonias

Venha e me tire do sério uma vez
mais
venha e me faça descarrilar
sair dos trilhos meus em seus braços
corro, viro curvas, subo montanhas
são as mais lindas que já vi
esses picos em frio dia
flores de cerejeira, primavera janonesa

Seja ligeira
o mês já termina
mas venha e me tenha
sem pressa

Joice Furtado - 04/10/2012

Produtos

Foto: Minja Lee
Electroduto
tudo gaseificado
engrenagens
mundo em ebulição

avenidas sangram
pulsos cortados
motoristas
pedestres e os pardais...
piscam olhos
faroleiros
lanternas arrebitadas
bundas siliconadas e peitos
requebram revelam sinais
trânsito de pássaros urubus
aeroportos aeronaves aerotubos
com gás explodindo sob os pés
executivos executáveis programas
planos de final de ano
assim na mesma escoando: a janta, as mãos
corpos e mentes jogam no presente
passado futuro e quem os conhece?
- por inteiro
perseguem paralelas e intactas
linhas de spray em latas
fabricam os homens sem remédio
rota de colisão


Joice Furtado - 04/10/2012

Tranças


Elucidado
plano arco-
queijo e vinho
alucina-
me olhos
desejosos
sob pele
quente arrepia-
(d)ados 
jogados na mesa
corpos
- desnudos
encarando
cara
   a
   cara
minha saliva
en-globos
semi
   acesos
penumbra-
ços da noite
e dia
és sol
queimo-
meus prazeres
nua 
  reflito
     repito
         nua
           largo-
ao longo de ti
rastros dobrados
reverências lascas
pedaços que se montam-
marés subindo e descendo
peças de lingerie
desato&
ato cordões
voltas suaves-
vontades elos
firmamo-nos lábios
encaixes
de nós
em
nós
a trança prossegue

Joice Furtado - 04/10/2012

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

As palavras

Foto: Fernando Figueiredo

Las Palabras

“(…) Todo lo que usted quiera, sí señor, pero son las palabras que cantan las que suben ybajan… Me prosterno ante ellas… Las amo, las adhiero, las persigo, las muerdo, lãs derrito… Amo tanto las palabras… Las inesperadas… Las que glotonamente se esperan, se acechan, hasta que de pronto caen… Vocablos amados… Brillan como piedras decolores, saltan como platinados peces, son espuma, hilo, metal, rocío… Persigo algunas palabras… Son tan hermosas que las quiero poner todas en mi poema… Las agarro alvuelo, cuando van zumbando, y las atrapo, las limpio, las pelo, me preparo frente al plato, las siento cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetales, aceitosas, como frutas, como algas, como ágatas, como aceitunas… Y entonces las revuelvo, las agito, me las bebo, me las zampo, las trituro, las emperejilo, las liberto… Las dejo como estalactitas en mi poema, como pedacitos de madera bruñida, como carbón, como restos de naufragio, regalos de laola… Todo está en la palabra… Una idea entera se cambia porque una palabra se traslado de sitio, o porque otra se sentó como una reinita adentro de una frase que no la esperaba y que le obedeció… Tienen sombra, transparencia, peso, plumas, pelos, tienen de todo ló que se les fue agregando de tanto rodar por el río, de tanto transmigrar de patria, de tanto ser raíces… Son antiquísimas y recientísimas… Viven en el féretro escondido y en la flor apenas comenzada… Qué buen idioma el mío, qué buena lengua heredamos de lós conquistadores torvos (…). Por donde pasaban quedaba arrasada la tierra… Pero a lós bárbaros se les caían de las botas, de las barbas, de los yelmos, de las herraduras, como piedrecitas, las palabras luminosas que se quedaron aquí resplandecientes… el idioma. Salimos perdiendo… Salimos ganando… Se llevaron el oro y nos dejaron el oro… Se ló llevaron todo y nos dejaron todo… Nos dejaron las palabras.”

Pablo Neruda. Trecho do seu livro autobiográfico Confesso que vivi.

*

"(...) tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no voo quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pelos  têm tudo o que se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiquíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras."

*Butifarra: espécie de chouriço ou linguiça feita principalmente na Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)

Tradução retirada do site Releituras


Sem dúvida, o amor à palavra é o sustentáculo de muitos de nós que a praticamos, perseguimos, respiramos e até... vivemos.