quinta-feira, 22 de março de 2012

Atravessando a Serra




Quando João morreu,
era frio em setembro,
um sentimento atípico
passava pelos arredores,
nem pássaros, nem flores
podiam-se avistar


Morrendo João,
seus olhos já não brilhavam,
apagando-se como lâmpada,
dias e noites passava, parado
num canto da sala, sofá
com seus flancos marcado


Quando João agonizava, 
Ainda ao sol do meio dia
a própria veio me visitar
Confusa face no portão, 
Mostrou-se completa, suja
morte desgostosa, mendigo
ferido de pés no chão


Deitado em seu leito choroso,
honra ainda havia, suportava
somente um pesar, agarrou-se
ao sonhos antigos, a cruz
e ao Filho querido rogando
insistente seu nome: Jesus


Fulminante, suspirou
forte em um gemido
A morte toda risonha
sussurrou vitoriosa,
senti que ela viera 
nas ondulações gélidas
pairando leves no ar


Passada a madrugada
manhã de primavera
no crepúsculo jazera 
João do seu reinar.


E lá se foi...


Morreu João,
sem calças num caixão
puseram o corpo a velar
Luz de velas inexistentes
poucos amigos, tranquilo,
nu, contudo honroso homem
Oportuno eu vi surgir ao longe 
o trem que atravessava a Serra,
forte como ele era, amado João
acompanhado de minérios, foi
cortejado por anjos na tarde
sua alma não cabe, jamais ficará
lançada aos mortos, há festa hoje
entre os santos, dança e saltérios.

Joice Furtado - 22/03/2012

0 comentários: