terça-feira, 10 de abril de 2012

Narcisismo

Imagem: Google


Contempla o espelho embaçado do ego
servil natureza a si mesmo conclama
Narciso, a flor do jardim de Hades
Segura-a, aos prantos, Perséfone na chama


Vista-te da aura, mais sublime coroa
rubis enfeitam teu olhar, homem esguio
Olhos, braços, mãos, peito torneado
Aos deuses compara-te, orgulho feitio
Pernas de mármore dos palácios
Apolo contempla-o, também Dionísio


Entorpecido diante a visão nas águas
em gotas de chuva do verão chegado
debruçado a se contemplar, homem-tolo
alucinação produz, Narcótico fantástico
tolamente mortificando-se no que reluz
Fantasias da mente, turbilhão enigmático


Silêncio no engano plácido, lago falsário


Eco repete o teu nome, amaldiçoa
a luz que a ilumina por ver-te um dia
murcham-se os lírios, a oliveira regride
ao rutilar nos olhos essa suposta primazia


Vaidade, companheira que te segue, resigna
Raiando o sol até o soar da última era
Dentro de si  revolta carrega, insensível
Aos olhares, coração, da mais bela e digna


Conheça a ti mesmo, ó Narciso
sabes dos teus dramas, trama tudo sozinho
enrolado em ornada túnica, mortalha fúnebre
de todo pobre e insignificante caminho


A beleza que em ti supera, supera-se pelo orgulho
Fétido cheiro exalando dos teus espinhos
Narciso, Narciso
Quantas sobras mais comerás, roendo ossos na lama,
revirando teus entulhos mesquinhos?


"É que Narciso acha feio o que não é espelho."
Sampa - Caetano Veloso

Referências:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Narciso

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