quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Fios de gentes

Foto: Web
Elas me olham na rua
as pessoas
com seus traços e bocas
e gestos e falas
controversas

são multidões de palavras
aglomeradas em cérebros
outras soltas no espaço
no hospício onde a genialidade
morre a base de ansiolíticos

Sinto que elas me olham na rua
disfarço e balbucio uma canção
talvez daquele filme dos anos oitenta
ou a primeira modinha que venha a cabeça
propagada pela rádio de esquina

O tempo passa e me sinto estranho
histérico talvez, menos tolo
enquanto observo todos olhos
emolduro mosaicos
são gentes? são arcos e retas?
uma régua que meça o destempero
sinto e percebo - sentir é falho

humano que sou - todo enredo
todo espeto de pau de churrasco
momentaneamente aqui no fogo
a carne que me reveste é hábito
mas a mente, essa é a imensidão

eu com todos os eus
todas as faces ocultas e descobertas
lua de quimeras, de loucuras
super-ego, super-bomba
compasso meu relógio celular

tic tac, tic tac
uma dança, mas nem sei dançar

atravesso a praça, abaixo a cabeça
outras vezes encaro seus rostos de vultos
nunca as vi ou suas roupas e calçados

o tempo está nublado hoje, mas eles continuam
ali esperando, esperando o que ou quem?

tic tac, tic tac
junto meus fios soltos, sincronizo o horário

dedos são dados na mesa, na alma, nessa verídica jornada
atomizo-me
opiniões, entendimentos, paixão, amor e as letras
por dentro explodo, desabo
e agora?
Começo tudo outra vez

Joice Furtado - 03/01/2013

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