quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Amar



Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,

amar e malamar,

amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave
de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Autor: Carlos Drummond de Andrade
Livro: Amar se aprende amando




Então cada gesto parece tão doce
Cada olhar cativante
Um se dar sem medos
Um medo de não se dar
Entrega
Tudo tem mais sentido
Ou sentido algum
É só essa vontade de ser...estar
tão perto
que possa sentir o calor das mãos
e ouvir seu respirar
Queimando dentro do peito
o que é isso que lhe faz chorar
chorar suave, não de mágoa
chorar saudade de nossas falas
sussurros, promessas veladas
Ditas e encerradas
como tesouros
Amar deixando livre
Amar querendo perto
Amar...só amar
como se ele água fosse
e eu, como que no deserto,
não me canso de o desejar.

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