terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Luz no fim do túnel



Embarco nos sonhos
deliro
minha alma dilacerada esbraveja
respiro ainda

Os dias estão nublados
brumas tenho e me embaraço
os nós ficam frouxos
a eles me agarro

embrulho a dor em papel celofane
vejo-a e ela me vê
minto que esqueço

sinto a necessidade profunda
esmagadora constatação
é hora de ser mais egoísta
Penso:
- a plenitude é para os desapegados 
ou alienados com abastança - 

pagarei as contas? 

Sinto uma pedra na nuca
abaixo a cabeça que pesa: 
insatisfação

amargurada, meus ossos nesses instantes
esfarelo
remoo raivas

paliativa
tomo minha dose de auto-estima
- a que me resta -
junto os cacos de mulher e acendo
luz no fim do túnel

até em incertezas há força na poesia.


Joice Furtado - 29/01/2013

Você entrou no trem e eu na estação...
Naquela estação - Adriana Calcanhoto

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Pasmada dor

Imagem: Kassandra

De cansados pesam ombros
triste reboco
maltratado pelo sofrer
intempéries

mágoa nas mãos
e olhos
chapisco que arranha
minha cara sã

mais louca não posso
engulo o tempo
injustiças embolam entranhas
confundo as coisas

... e de me confundir
volto ao estado caótico
doente, do Ente
Entre a dor(e)pasmo!
a dor(e)Ser

Joice Furtado - 28/01/2013

E os meus passos...




Vou sair pra ver o céu
Vou me perder entre as estrelas
Ver daonde nasce o sol
Como se guiam os cometas pelo espaço
E os meus passos, nunca mais serão iguais   


Busca Vida - Os Paralamas do Sucesso

domingo, 27 de janeiro de 2013

Trágico



Hoje não tenho vontades
escrevo palavras incultas
sou luto

choro a dor da perda
a minha
a muita

eram jovens, jovens Brasil
vida e luz, não morte

sinto revirar o estômago
esta mente pesa bastante

Ganância, que nojo!
podre entorpecimento

onde vamos?
seres ridiculamente humanos
restritos

Se vale o meu grito,
não o sufocarei:
É triste!

Olhai por eles, por nós
pois ainda existe
quem rogue ao céu
dentro de si

Esperança

Por favor, não se apaguem os bons sentimentos
Reajam!

Joice Furtado - 27/01/2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Doces travessuras


Foto: Web
O desejo é lâmina
profundo corte

até mais que sorte
governa
aquela área extensa
entre vida e morte
o sonho!

desperto da melancolia
aniquilo vultos
meu desejo é tudo
equilíbrio

vontade salivando a boca
arde o peito
sinto
imagino as possibilidades
levanto

a lama é lugar dos fracos
pobres de espírito e mesquinhos

louca darei aos sonhos moinhos
combatendo um inimigo 
exerço o pensar - Renasço em ânimo - 
desejo sobre desejo, doce mimo

quimeras mais obtenho
das travessuras perco as contas

Joice Furtado - 25/01/2013

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Sedutora natureza

Foto: Becca Kobiety


A rosa no galho
pendia flor entre botões
viçosa

apanhei-a, ó mão curiosa
desrespeitando detive
sedutora natureza

cheirei suas pétalas
- perfume fresco - 
empregnado em min'alma
abrandou-se o anseio

entre folhas eu a pus
quem me dera ao seio
juntar aroma com aroma
recender
os 
cheiros

sonhar sorriso
beijar o céu do céu
ou paraíso

lindo nome não haveria
sobrepujando o dela

canta-me 
ao ouvido
conto-te e me encontro
flor poesia

Joice Furtado - 24/01/2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sonífera


Sonífera
intoxicação dos frustrados
vício reclamatório

todo engole por vez
comprimido sentimento
misturo
raiva e saliva

sou um bicho
acuado e bicho
perverso até certo ponto
bizarro

a moral que poucos têm
sobreviventes são boas ações
os dias são maus
prevalece o desdém

Onírica ilusão menina
chora contos e mágoas
já lhe deram o tapa
também lutar consegue?

feche os olhos
a respiração tornada leve
vida
constipada, contaminada razão
matam-nos o peito e ainda dizem: culpa sua!

Joice Furtado - 23/01/2013

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ar-dorAmor

Imagem: Picfor

"O que é o amor a não ser o avesso do espesso?"
delicado contorno em rubi
duro

adorável 
sentimento?
embora não se classifique
o amor

é rima, pobre ou rica
levanta aos ares e goteja

amor
quem o diz solúvel
cego, por hora, cego
vago conhecedor do íntimo

alheio ao imaterial
esse jamais tocará
parcela de luz ínfima
- flameja no peito - 
tão bela e cáustica centelha

soprados ventos sobre
com toques alimentada
faz forte, grande labareda


Joice Furtado - 22/01/2013

Inspirado no poema - Sobre o avesso da dor - do Guardião de Quimeras blog Mero Esmero

Desejo poético

Imagem: Elena Dudina

Cresce em mim um gosto
gozoso
piscar pestanas
palmas que as quero
deslizantes


anseio genuíno
saliva aguada boca
ardendo o peito em outra
jornada embarco

navego os canais reais-
sonhos
imaginários amo
visualizar mistérios das páginas
preenchidas linhas
desejo


desvendo os olhos
abro-me, parto-me e nasço

recém-nascida vejo o mundo
absorvo, extasiam
poéticos genes no espaço
vida distribuída em meu corpo
preciso
inundar-me de novo, um novo
poeta de fato


águo

... dentro e fora de mim
eis a dupla procura
deliciosa e causticante


Joice Furtado - 22/01/2013

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Busca

Imagem: Drazenka Kimpel

Rebusco a linha
entrevejo olhares
olores, sim


ainda o suspiro
descortesa sigo:
- ne me quitte pas -


chorei por dentro
abandonei-te aos desvarios
homicídio ao qual submeti o sentir


flores nos olhos, nesse seio
estou cega
e aos poucos
isso vejo


falo convulsivamente sobre ti
invento


teu nome é uma canção sublime
lancei-o entre os lírios do jardim
talvez perto brotasse aqui


em mim
os teus sonhos mais risonhos
resolvido-azul
tingindo os céus sobre a mente


supero. Mentira minha!
abando-te a espera
ansiando a tua busca
rebusca-me...


em todo íntimo confessar
aí estou
- ne me quitte pás -

apenas uma canção
eu, amor


AmorEu
hei de renascer
gavinhas enroscadas
firme, apaixonada em teus braços


Joice Furtado - 20/01/2013

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

CorpArte


Foto: Yasmina Alaoui & Marco Guerra

Minha arte é o corpo
meu
quente envoltório 
habita

cores arremesso
pequenos os declives
faço
o mundo onde atuo

A arte é corpo meu
traço
fora e dentro caminha
provoca-me e prova
do mel e carícias

arte-corpo
corpo-arte

CorpArte quero
cada fibra aspirante 
desde o pé às pontas
das pontas dos cabelos

Respiro, suspiro, anseio
amantes somos a todo momento
persigo-te
foges e me encontras
procuro...

rebroto das frustrações 
sei
nascerão flores das melancolias
flores sobre minhas mãos
e dedos, peitos, rosto
... tudo renasce em poesia

Joice Furtado - 18/01/2013

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Tecido Amor


Foto: Andrei Belichenko

Amor tecido
leve sinto-o
por toda parte

Amortecido
doer não mais
sentido tem
dar mole ao azar

jogo de xadrez
em cheque
ou mate
quero a bebida quente!

Amor-te
apaga a esperança
Viva!

ido o tempo
volte as engrenagens da gana
sacuda as folhas
fogueie entranhas
mas cante

há poesia nos véus
e, céus, nos olhos!

transparentes sonhos
nenhumas separações
podem-na conter

Joice Furtado - 16/01/2013

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Alas



Cataventos
Caracteres
alinhados na mente
sopro

é, vida!

Mordisco teus espaços
espasmos formosos lança
bebo palavras

gole a gole
sorvo as delícias
quão entregue às carícias
ser amoRântico

moléculas unidas
calor com calor faz-se
multiplicam
meus desejos por ti

dada estou
sobre a mesa são cartas
dedos perfumados gotejam fragrância
suspiro lânguido e(is)-
alas poesia

Joice Furtado - 15/01/2013

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A hora (Juana de Ibarbourou)


Toma-me agora que ainda é cedo
e que levo dálias novas na mão.


Toma-me agora que ainda é sombria
esta taciturna cabeleira minha.


Agora que tenho a carne cheirosa
e os olhos limpos e a pele de rosa.


Agora que calça minha planta ligeira
a sandália viva da primavera.


Agora que em meus lábios repica o sorriso
como um sino sacudido às pressas.


Depois…oh, eu sei
que já nada disto mais tarde terei!


Que então inútil será teu desejo,
como oferenda posta sobre um mausoléu.


Toma-me agora que ainda é cedo
e que tenho rica de nardos a mão!


Hoje, e não mais tarde. Antes que anoiteça
e se torne murcha a corola fresca.


Hoje, e não amanhã. Oh amante! Não vês
que a trepadeira crescerá cipreste?


(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)


La hora
Juana de Ibarbourou


Tómame ahora que aún es temprano
y que llevo dalias nuevas en la mano.


Tómame ahora que aún es sombría
esta taciturna cabellera mía.


Ahora , que tengo la carne olorosa,
y los ojos limpios y la piel de rosa.


Ahora que calza mi planta ligera
la sandalia viva de la primavera


Ahora que en mis labios repica la risa
como una campana sacudida a prisa.


Después… !oh, yo sé
que nada de eso más tarde tendré!


Que entonces inútil será tu deseo
como ofrenda puesta sobre un mausoleo.


¡Tómame ahora que aún es temprano
y que tengo rica de nardos la mano!


Hoy, y no más tarde. Antes que anochezca
y se vuelva mustia la corola fresca.


hoy, y no mañana. Oh amante, ¿no ves
que la enredadera crecerá ciprés?


Retirado do blog Utopia de Maria Teresa Almeida Pina 

Sugestão de leitura da amiga Carmen Silvia Presotto.

D'alma

Imagem: Web
Eu te leio
tateio a tua pele
sentidos exatos
fantasio

curvas da palavra
linhas definidas
retiro a tua roupa
vestimenta célebre

nua aos meus olhos
és forma
descomplicada posa
pousa sobre mim

provo do sublime
fico tonto com mosto
vinho suave tens
quanto gosto

olhar d'alma
não me mortificas, gozo
composta e individualmente
Amo

Joice Furtado - 09/01/2013

Poeira do infinito


Racional tu me olhas
aborrecem-te os questionamentos
vontades intermináveis
- caprichos tenho -

não sou um bicho
ainda que me cavalgues duramente
pisa sobre as preferências
- faço para ti este tipo - 

dou a chance da vanglória
abraço o teu sorriso
molduro o meu ao teu

velo por prazeres esquecidos
enterrados sem flores
sepultados no corpo insone

a bebida que não toquei
mesmo que a veja
passando por meus olhos
em uma vitrine, o luxo

dispenso aquele mundo
lixo o qual me ofereces tão leviano

Persigo o inesperado
desesperado truque de mágica
esta poeira do infinito na qual tocamos
sim, nela tocamos

estou faminta, mas tu agravas minha fome
nega fantasias a mim que definho
- um esfomeado a beira do prato -

intensa, ainda e sempre intensa
busco aquele pedaço do céu onde recolho
cacos de vida pura, colo-me ao espaço
a poesia me beija e me reveste do novo

a ti um adeus

tenho uma bela roupagem agora
 - minha própria sensibilidade!

Joice Furtado - 09/01/2013

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Película


Eu vejo tudo enquadrado...
quadros de vida
cenas de um filme

passo
repasso
disTraio-me

retrocessos são descontinuidades

aperto o play
respiro o alívio 
dias de oxigênio íntimo

pelas quadras do mundo
células jovens, circulando enigmas
adianto a película

zzzzzz

perco o entendimento
da esférica, por vezes quadrada
também...

caixa de pensamentos

Joice Furtado - 08/01/2013

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Fios de gentes

Foto: Web
Elas me olham na rua
as pessoas
com seus traços e bocas
e gestos e falas
controversas

são multidões de palavras
aglomeradas em cérebros
outras soltas no espaço
no hospício onde a genialidade
morre a base de ansiolíticos

Sinto que elas me olham na rua
disfarço e balbucio uma canção
talvez daquele filme dos anos oitenta
ou a primeira modinha que venha a cabeça
propagada pela rádio de esquina

O tempo passa e me sinto estranho
histérico talvez, menos tolo
enquanto observo todos olhos
emolduro mosaicos
são gentes? são arcos e retas?
uma régua que meça o destempero
sinto e percebo - sentir é falho

humano que sou - todo enredo
todo espeto de pau de churrasco
momentaneamente aqui no fogo
a carne que me reveste é hábito
mas a mente, essa é a imensidão

eu com todos os eus
todas as faces ocultas e descobertas
lua de quimeras, de loucuras
super-ego, super-bomba
compasso meu relógio celular

tic tac, tic tac
uma dança, mas nem sei dançar

atravesso a praça, abaixo a cabeça
outras vezes encaro seus rostos de vultos
nunca as vi ou suas roupas e calçados

o tempo está nublado hoje, mas eles continuam
ali esperando, esperando o que ou quem?

tic tac, tic tac
junto meus fios soltos, sincronizo o horário

dedos são dados na mesa, na alma, nessa verídica jornada
atomizo-me
opiniões, entendimentos, paixão, amor e as letras
por dentro explodo, desabo
e agora?
Começo tudo outra vez

Joice Furtado - 03/01/2013